28 fevereiro 2007

Peço silêncio

Agora me deixem tranqüilo.
Agora se acostumem sem mim.

Eu vou cerrar os meus olhos.

Somente quero cinco coisas,
cinco raízes preferidas.

Uma é o amor sem fim.

A segunda é ver o outono.
Não posso ser sem que as folhas
voem e voltem à terra.

A terceira é o grave inverno,
a chuva que amei, a carícia
do fogo no frio silvestre.

Em quarto lugar o verão
redondo como uma melancia.

A quinta coisa são os teus olhos,
Matilde minha, bem-amada,
não quero dormir sem teus olhos,
não quero ser sem que me olhes
eu troco a primavera
para que me sigas olhando.

Amigos, isso é quanto quero.
É quase nada e quase tudo.

Agora, se querem, podem ir.

Vivi tanto que um dia
terão de por força me esquecer,
apagando-me do quadro-negro
meu coração foi interminável.

Porém, porque peço silêncio
não creiam que vou morrer
passa comigo o contrário
sucede que vou viver.

Sucede que sou e que sigo.

Não será, pois lá bem dentro
de mim crescerão cereais,
primeiro os grãos que rompem
a terra para ver a luz,
porém a mãe terra é escura
e dentro de mim sou escuro
sou como um poço em cujas águas
a noite deixa suas estrelas
e segue sozinha pelo campo.

Sucede que tanto vivi
que quero viver outro tanto.

Nunca me senti tão sonoro,
nunca tive tantos beijos.

Agora, como sempre, é cedo.
Voa a luz com suas abelhas.

Me deixem só com o dia.
Peço licença para nascer.

Pablo Neruda
De Estravagario - 1958

27 fevereiro 2007

A doida


Eu ia escrever sobre outra coisa mas não resisti...
A Britney anda roubando a cena.
O que é aquilo de ela bater de guarda-chuva nos paparazzi???
Ela tá com-ple-ta-men-te maluca ! Ninguém mais duvida.
E vocês viram o que lançaram?
Uma boneca da Britney na versão camisa de força
uhauhuhahuahu
Perfeita!

25 fevereiro 2007

Free Hugs





Um vídeo inspirador.

"Há um ano, Juan Mann era só um homem estranho que ficava parado no Pitt Street Mall em Sydney, Austrália, oferecendo abraços de graça para as pessoas que passavam pelas ruas. Um certo dia, Mann ofereceu um abraço a Shimon Moore, o líder da banda Sick Puppies e, desde então se tornaram bons amigos. Um certo dia Moore decidiu gravar Mann fazendo sua campanha por "Free Hugs". Na medida em que o Free Hugs atingia proporções maiores, o conselho da cidade tentou banir a campanha. Então Mann e seus amigos fizeram uma petição com mais de 10.000 nomes apoiando a campanha do abraço de graça. Quando Mann morreu, Moore decidiu mixar o video que ele tinha feito do Free Hugs com a música All the Same, que ele havia gravado com a sua banda Sick Puppies. Free Hugs é uma história real, sobre um homem que acreditava que sua missão era trazer alegria pra vida das pessoas através de um abraço."

Palavras

Eu tenho problema com as palavras, sabe. Nunca posso confiar nelas. E confiança pra mim é fundamental.

Às vezes, quando eu mais preciso, elas somem. Costumam desaparecer por completo bem na hora em que são mais necessárias. E quando elas faltam, meus sentimentos ficam escondidos. Ignorados.

Outras vezes, eu procuro, e elas não existem. Tem horas em que não consigo achar nenhuma que seja capaz de expressar exatamente o que quero. E meus sentimentos ficam no limbo, perdidos entre uma palavra e outra, deslocados.

Noutras, elas são tão confusas. Se transmutam. Eu digo uma coisa e elas saem diferente fazendo todos entenderem o contrário. São camaleoas. E os meus sentimentos ficam incompreendidos.

Definitivamente, não posso contar com elas.

Tantas vezes o que sinto extrapola a linguagem que não encontro palavras suficientes pra mensurar o sentimento. Vejo as palavras ali, tão pequenas e incompletas, ameaçando fazer tudo parecer muito pouco.

E é assim, nessa luta entre o sentido e seus sinais, que meus sentimentos vão ficando aprisionados, como espécie ainda não catalogada pela ciência, esperando o vocabulário adequado pra existir.

20 fevereiro 2007

Recuerdos

The dream is over!
Pois é... amanhã tudo volta ao normal, rotina, problemas, decisões, e a realidade cairá como uma pedra na minha cabeça. Claro que também tem o lado bom... voltar pra casa e pra tudo o que é familiar, conhecido e seguro.
E o Chile? Há... o Chile... recuerdos inolvidables... Santiago, as cordilheiras, o pacífico, Neruda... E o show do Coldplay claro, não é por isso que eu fui pra lá? ... rs... quase tinha me esquecido. Massssss... São tantas histórias e tantos lugares que merecem capítulos separados.
Por enquanto...

Vista aérea da Cordilheira dos Andes antes da chegada em Santiago.


De novo...

E aqui em baixo um pouquinho antes da chegada em Santiago com as cordilheiras ao fundo. Aliás, elas são presença constante, dá pra ver as montanhas de qq lugar da cidade.

09 fevereiro 2007

Memento moris



Por falar em morte, tava reparando um negócio engraçado. Sempre que alguém morre aparece um pra dizer que o falecido tava prevendo a tragédia. Sinceramente? Se tivesse previsto estaria vivo! Duvido o cara que soubesse e mesmo assim enfrentasse. Não previu nada.

No máximo faz como eu, que acha que está prestes a morrer a qualquer momento e vive falando isso. Não por morbidez nem por falta de vontade de viver. Não, mas pela possibilidade real de que isso aconteça e a certeza que um dia vai acontecer de fato. Só isso. É mais ou menos como aqueles monges que ao se cumprimentar falam "memento moris" (lembre-se que morrerás). É só pra se ligar!

E tem outra, não sei pra que fazer tanto drama! Morreu? E daí? Todo mundo vai morrer um dia. Medo eu tenho é de viver mal. De ter uma vida sem graça e sem sentido. Isso eu tenho medo. De chegar no dia da minha partida (q dramática) e perceber que disperdicei todo o tempo que estive aqui. Isso sim daria vontade de me matar...rs... Massss como estou trabalhando arduamente para que esse não seja o caso...rs... vou continuar não me preocupando.

Há, e se alguma coisa acontecer comigo na viagem, saibam que eu não previ, viu? uhauhauhauh

"... Cada um de nós é um grão de pó
que o vento da vida levanta,
e depois deixa cair.
Temos que arrimar-nos a um esteio,
que pôr a mão pequena em uma outra mão;
porque a hora é sempre incerta,
o céu sempre longe,
e a vida sempre alheia... "

Fernando Pessoa - Livro do Desassossego

No Elevador do Filho de Deus

.

A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
Que eu já tô ficando craque em ressurreição.
Bobeou eu tô morrendo
Na minha extrema pulsão
Na minha extrema-unção
Na minha extrema menção de acordar viva todo dia
Há dores que sinceramente eu não resolvo
sinceramente sucumbo
Há nós que não dissolvo
e me torno moribundo de doer daquele corte
do haver sangramento e forte
que vem no mesmo malote das coisas queridas
Vem dentro dos amores
dentro das perdas de coisas antes possuídas
dentro das alegrias havidas


Há porradas que não tem saída
há um monte de "não era isso que eu queria"
Outro dia, acabei de morrer
depois de uma crise sobre o existencialismo
3º mundo, ideologia e inflação...
E quando penso que não
me vejo ressurgida no banheiro
feito punheteiro de chuveiro
Sem cor, sem fala
nem informática nem cabala
eu era uma espécie de Lázara
poeta ressucitada
passaporte sem mala
com destino de nada!

A gente tem que morrer tantas vezes durante a vida
ensaiar mil vezes a séria despedida
a morte real do gastamento do corpo
a coisa mal resolvida
daquela morte florida
cheia de pêsames nos ombros dos parentes chorosos
cheio do sorriso culpado dos inimigos invejosos
que já to ficando especialista em renascimento

Hoje, praticamente, eu morro quando quero:
às vezes só porque não foi um bom desfecho
ou porque eu não concordo
Ou uma bela puxada no tapete
ou porque eu mesma me enrolo
Não dá outra: tiro o chinelo...
E dou uma morrida!
Não atendo telefone, campainha...
Fico aí camisolenta em estado de éter
nem zangada, nem histérica, nem puta da vida!
Tô nocauteada, tô morrida!

Morte cotidiana é boa porque além de ser uma pausa
não tem aquela ansiedade para entrar em cena
É uma espécie de venda
uma espécie de encomenda que a gente faz
pra ter depois ter um produto com maior resistência
onde a gente se recolhe (e quem não assume nega)
e fica feito a justiça: cega
Depois acorda bela
corta os cabelos
muda a maquiagem
reinventa modelos
reencontra os amigos que fazem a velha e merecida
pergunta ao teu eu: "Onde cê tava? Tava sumida, morreu?"
E a gente com aquela cara de fantasma moderno,
de expersona falida:
- Não, tava só deprimida.

Elisa Lucinda

04 fevereiro 2007

Tentativa de suicídio

Adoro comédias românticas. Adoro meeeesmo. Adoro aqueles amores impossíveis, os finais previsíveis e as muitas cenas clichês embaladas ao som de uma trilha sonora de cortar o coração. E muitas vezes, os pulsos! ...rs...

Pois bem, esse fim de semana assisti dois filmes assim. Yes, dose dupla, quase uma tentativa de suicídio.

O primeiro foi "Loucos de Amor". Lendo o nome do filme a primeira impressão que se tem é que se trata de mais um filminho sobre um casal loucamente apaixonado e blá-blá-blá... Mas não se trata só disso! O "louco" do título é no sentido literal! Sim, os personagens são doidinhos! Ambos sofrem de diferentes formas de autismo (mas não é um filme sobre a doença).

Os dois se conhecem num grupo de auto-ajuda e se apaixonam. O filme mostra exatamente essa relação, "não convencional", as dificuldades, os preconceitos e a luta dos personagens pra superar suas limitações. E tudo de um forma tão delicada! A gente acaba se apaixonando por eles, se comovendo com a maneira tão peculiar com que vivem a relação, como se comunicam, como se tocam, como se amam. O engraçado é que com o tempo nos damos conta que, na verdade, somos iguais a eles.... somos todos iguais quando amamos... mesmo com todas as diferenças. Lindo.

Não tão sensível, mas nem por isso menos lindo, foi "E se fosse verdade". O filme é com os fofos Reese Witherspoon (Johnny e June e Feira das Vaidades) e Mark Ruffalo (Minha Vida sem Mim e De Repente 30). Aliás, aposto minhas fichas nesses dois, principalmente na Reese. Adoro ela. No filme, a química do casal e a história inusitada rendem muito riso e muitas lágrimas, tudo ao mesmo tempo...rs... me lembrou "A Casa do Lago"...

E como todos sabem que nenhum amor sobrevive sem uma bela trilha sonora, nesse filme os caras exageraram. A trilha é de arrasar. Dois destaques: primeiro, a versão doce, doce, doce de "Just Like Heaven-The Cure", cantada por Katie Melua. Linda demais. E segundo, a delicada "Colors" do meu amado Amos Lee. Apaixonante.


Dois filmes leves, sentimentais, divertidos, pra ver sem medo de errar.