09 abril 2007

O sujeito que não sabe como

A essa altura, com o cérebro quase paralisado pelo cansaço e pelo sono, ele ainda resiste. Tenta escrever algumas poucas linhas. Quer pôr pra fora os demônios que o atormentam. Quase adormece.

Ouviu dizer que o segredo do sucesso é escrever tudo aquilo que se tem vontade. Ele duvida. E se escrevesse tudo o que pensa? Faria sucesso? Não. Seria ridículo, apenas. Ninguém está interessado em ouvir suas teorias sobre a vida ou seu idealismo idiota. Muito menos querem ouví-lo confessar suas fraquezas. Daria pena.

Sabe que é um pobre coitado, um total analfabeto sentimental e social. Um desajeitado, inconveniente e "bruto". Aquele tipo de sujeito, que é inadequado, não importa onde esteja. O tipo que nunca sabe como agir, que só consegue seguir os seus instintos. No fundo, tem inveja de todos aqueles que sabem de cor o roteiro e que seguem a vida interpretando seus personagens... seguros, conhecidos, esperados.

E ele? Ele nunca esquece que é um péssimo ator. Um desastre. Na verdade até agora ainda nem descobriu o papel que criaram pra ele. E quando tem uma vaga idéia, não gosta, e se revolta. Se acha um revoltado. Aliás, esse é o papel que sempre quis fazer: o rebelde, mas faltou ousadia. E isso o revolta ainda mais.

Percebe que cada vez as idéias ficam menos claras. Lembra de novo das pessoas que interpretam seus personagens, que sabem a hora certa de entrar em cena e a dose certa de emoção que devem usar. E ele? Ele na sua novela mexicana... perdido no exagero dos sentimentos. Sem saber o que sentir, nem como, nem quando...

Como sempre, queria dizer tanta coisa ainda... mas os pensamentos começam a desaparecer como um flash.

E ele sucumbe.

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