10 dezembro 2006

Instinto assassino


Viajar é bom, sempre bom, mas cansa. Pois é, eu estava de fato bem cansada. E também por um motivo qualquer estava com dor de cabeça. Pensei em dormir cedo, me recuperar direitinho, e aproveitar bem o dia seguinte.

Pois bem, era isso que eu tinha em mente pra aquela noite. Só isso. Dormir. Não tinha qualquer outra pretensão, nem planos mirabolantes, nem jantares à luz de velas, nem cenas de tórrida paixão. Queria a noite de sono dos justos. E assim, na inocência, me deitei na cama.

Mas a paz não durou muito. Na calada da noite, um turbilhão de ruídos saiu do posto de gasolina da esquina e chegou como uma avalanche. Me acertou em cheio. Pá!!!!!! Adolescentes e seus Bondes do Tigrão, Calypsos e afins me atingiram com toda a força. Fui tomada por aqueles sons retumbando na minha mente tum ti-tum... ti-tum... TI-TUMMMMMMMM ... Aos poucos ecoaram por toda a casa e fizeram o vidro tremer. Sentia como se meu coração estivesse pulsando dentro da minha própria cabeça. Entrei em choque.

E eu que já não conseguia dormir, agora nem conseguia mais pensar. Perdi o controle.

Tomada por um acesso de fúria queria acabar com aquilo a qualquer custo. Até a morte parecia um preço justo a pagar pelo silêncio. Mas preferia machucar e torturar. Queria que sofressem. Sorria ao me imaginar riscando aqueles carros do pára-choque ao pára-brisa. Escrevendo babacas, em letras garrafais, destruindo, destruindo... Mas isso ainda parecia tão pouco...

Meu instinto assassino precisava de mais. Estava insaciável e tomava conta de mim com uma força nunca sentida. Sublimava meu pensamento, me enlouquecia. No delírio, tinha idéias luminosas. E explosivas. Ah Bin Laden my love... e tudo iria pelos ares... Bummm! Que doce visão seria! Cérebros vazios de um lado... corpos tomados de hormônios de outro... E os selvagens estariam eliminados. Os que sobrevivessem voltariam pra suas cavernas e nunca mais sairiam de lá... pelo menos não até estarem prontos pra viver em sociedade. Que sonho lindo.
Mas o pesadelo era grande! Era preciso fazer alguma coisa. Alguém tinha que dar um basta naquela loucura. E seria eu.
Com o sangue borbulhando nas veias e a fúria dominando meu peito, fiz o que jamais pensei que seria capaz de fazer. O que nunca ninguém imaginou que eu fizesse. Disquei 190. Sim, eu fiz. Disquei 190 e um policial atendeu. 10 minutos depois tudo estava resolvido.
A força da natureza se acalmou... aos poucos... e a paz voltou a reinar.
Adormeci.

4 comentários:

Anônimo disse...

huahuahua...
sei que não foi nada engraçado, mas a narrativa foi. adorei o texto. e a atitude.

bjs

Anônimo disse...

huahuahuahua
com a figura ficou melhor ainda.

Anônimo disse...

Cíntia, Descobri teu site ontem, e estou adorando os teus textos, que bela critica musical vc saiu hein. Acho que tu encontrou teu caminho, entre tantas leis e todas aquelas coisas que muitos não entendem surge a sensibilidade, o fogo da alma, o pulsar violento. Legal demais. Parabéns

Anônimo disse...

Cíntia, Descobri teu site ontem, e estou adorando os teus textos, que bela critica musical vc saiu hein. Acho que tu encontrou teu caminho, entre tantas leis e todas aquelas coisas que muitos não entendem surge a sensibilidade, o fogo da alma, o pulsar violento. Legal demais. Parabéns